Grupo de Pagode do meu Vizinho

Meu vizinho montou um grupo de pagode. Fudeu!

Olha só que benção Deus tem me concedido, hein, irmãozinhos? Colocou na minha vida um vizinho pagodeiro.

E eu pergunto: Por que, senhor? Por que comigo?

Por que não vem morar do lado da minha casa umas imigrantes loiras, suecas e gostosas fugindo do frio, em busca de um país tropical? Droga de vida. Sou tão azarado que é mais fácil um grupo de idosas refugiadas do Marrocos comprar um barraco aqui por perto.

Mas então, voltando...

Olha que bela merda mole... Final de semana, eu lá todo pimpão querendo descansar, pegar um solzinho na laje e refletir sobre a vida tomando um suco de acerola, escutando um Beatles ou um Keane de preferência. Perfeito, né?

Mas nãããõo, eu não posso fazer nada disso. E sabe por quê? Porque o filho da puta do meu vizinho chama a galerinha dele pra mandar um som durante todo o sábado e quisá por todo o domingo também, se eles tiverem fôlego.

E o repertório dos jovenzinhos? Ahhh... qualidade melhor impossível. Olha que beleza: Exaltasamba (vide foto), Grupo Revelação, um tal de Piqui(e) Novo, Jeito Moleque (Muleque, sei lá!), Inimigos da HP e mais um monte de coisas que eu nem sei o nome. Mas sei que de tanto ouvir essa bosta já sei todas as músicas. Veja só, tô por dentro:

“Eu não vou te trair com ninguém, meu amor vc tem, minha palavra. Pois tudo que um homem precisa eu tenho em casa.”

“Calma amor, por favor. Mais um pouco me mágoa (eu não tenho outra pessoa). Um pouquinho de ciúme é bom, mas muito não. BEIJO, PRINCESA.”

“Zé Minigite, já teve bronquite...”

“E entrar em transe, frenesi. Nem mesmo toda água do maaarrr, vai ser o bastante pra apagaaaar...”

Viu, que coisa? Já sou quase um pagodeiro oficial, sem querer ser. Tô indo ali pintar meu cabelo de loiro e comprar um cordão de prata agora. How about it?

Sério, eu sou uma pessoa boa e extremamente compreensiva. Eu não me importaria (muito) se esses caras tocassem uma vez ou outra por umas 2 horas que fosse. Mas porra, paciência tem limite. Eu não sou obrigado a ouvir pagode na minha orelha todo final de semana, o dia inteiro. Ou será que sou? Acho que não, né? Hunf... vou dar uma olhada na constituição ali. Já volto.

Que falta de noção que é essa? Quer tocar? Beleza, mas aluga um estúdio, ou toca no meio do mato, ou no Alasca, sei lá. Em qualquer lugar do mundo, mas só não toca essa merda perto de mim.

O mais triste e divertido dessa história é que o vocalista do grupinho fica ensaiando a sua ‘interação com a platéia’. Olha que engraçado, o cara fica falando umas coisas do tipo “brigadão aí, presença de todo mundo. Rapaziada bacana, cheio de menina linda, hein, cumpade?! Meu Deus do céu! Vamo tocar mais uma então, pessoal? (começa a introduza da música) Quero ver as palminhas e a galera cantando junto, hein?! Valeu, tá lindo demais, moçada! Agora só vocês”.

Olha que tosco! E é assim mesmo. Ele fala as palavras ‘moçada’, ‘galera’ e ‘valeu’ pelo menos três vezes a cada sentença.

Olha o nível dos caras. Eles ensaiam o que vão dizer pro público. Isso me faz pensar na platéia. Era mais fácil chegar lá e dizer “valeu ai pela presença, mãe. Sei que não deu pro papai tá aqui (ficou lá vendo o jogo Cruzeiro e Ceará), tem sua obrigações, a gente entende. Queria dar um salve pros manos da lan house, a rapaziada da pelada que compareceu também em peso. Sei que tá todo mundo ali no cantinho perto da TV, assistindo Cruzeiro e Ceará, mas o importante é a participação. Quero aproveitar e dar um alô também pra tia Fatinha e pra amiga dela, tá ali a D. Cota e a sobrinha dela. Beijão pra senhora, D. Cota. O pão-de-queijo ontem tava demais, hein? Show de bola! A galera da facul que tá ali perto do... do... do... bom, parece que eles já foram embora, né? Hehe... que coisa. Mas vamo continuar o som. Simbora, mainha!" (sei que mainha é coisa de axé. Mas é bom abranger todos os públicos, não?)

E eu não agüento a minha mãe. Todo mundo acha isso uma bosta, fica incomodado, mas ela simplesmente não deixa ninguém falar nada com o cara. Ela quer fazer a política da boa vizinhança, fraga? “ah gente... deixa os minino. É coisa da idade. Se a gente reclama parece que a gente é chato.” Porra, chato são esses paspalhos (sim, paspalhos, agora peguei pesadão mesmo) que não deixam ninguém ser feliz. Eu só queria aproveitar meus dias de folga em paz. Que mundo é esse? Por que um ser humano não pode sentar a bunda no concreto ver as flores e escutar o canto dos pássaros sem um som de cavaquinho desafinado ao fundo? Caralho!

Pra finalizar essa merda, só queria dizer que se você tem uma banda, seja qual for o estilo, não ensaie por 8 horas seguidas na maior altura. Não é legal com seus vizinhos. Principalmente se for pagode ou funk. Sei lá, vai fazer um show num asilo, na casa da mãe da sua namorada, no ônibus da seleção brasileira (lá eles curtem essas coisas), ou vá tocar na puta que pariu. Do contrário, enfie a porra do seu pandeiro no centro do seu cu(tovelo). Eu não quero ouvir essa merda no meu fim de semana inteiro. Será que é pedir muito? Será que dá pra você entender?

Chega também. Tão batendo no portão da minha casa. Tô indo ali atender.

Gracias, hasta la vista, baby.